EDUCADORES (são) CUIDADORES

   
    Por vezes o meu pensamento divaga em torno das minhas conceções sobre aquilo que é a Educação de Infância. Ainda não sei muito bem. Mas é esta reflexão que tento fazer, dia após dia, que me permite construir as minhas conceções sobre aquilo que é, ou deveria ser a Educação de Infância. É a reflexão sobre o meu modo de fazer que me faz desconstruir e reconstruir as minhas certezas pedagógicas, num conhecimento construído da, na e para a prática.

     É comum em conversas entre profissionais, amigos, conversas entre desconhecidos, ou até conversas entre desconhecidos nossos conhecidos que vamos ouvindo por aí, compararem os Educadores de Infância a cuidadores de crianças, a pessoas que cuidam dos filhos dos outros. Regra geral, sentimo-nos ofendidos. Caramba, não tiramos um curso para cuidar de crianças. Não andamos a estudar anos e anos para ouvir isto. Tiramos um curso para ensinar, apoiar e desenvolver crianças. Noutras situações afirmamos que não somos “amas” ou “babysitter’s”. Somos Educadores. Fomos talhados para Educar. Caramba!

 

    Mas, ao longo do tempo, vi-me refletir sobre esta questão, sobre o cuidar na Educação de Infância… e talvez tenha complementado a minha opinião. Todos os educadores são, antes de tudo, cuidadores. Se não formos cuidadores, não seremos educadores.

 

    Quando entra uma criança na nossa sala, pela primeira vez, com aquele ar amargurado, como se o seu mundo fosse acabar naquele instante porque lhe tiraram pela primeira vez o pai, a mãe, o irmão, a irmã, o cão, o gato, a avó, o tio, a prima e o urso Tobias, qual o nosso principal e primordial objetivo? Ensinar-lhe a contar até 27? Fazê-la distinguir as vogais das consoantes? Ou promover uma primeira abordagem ao movimento de translação da terra? Possivelmente não será a estratégia mais adequada. A primeira coisa a fazer é, de facto, cuidar dessa criança. E quando a criança cai e arranha os joelhos? A primeira coisa a fazer é cuidar. Quando organizamos o espaço das nossas salas estamos a cuidar das crianças. E quando as sentamos no nosso colo a ouvir uma história estamos a cuidar. E quando dizemos que sim. E quando dizemos que não. E quando, simplesmente, não dizemos... estamos a cuidar!

  

    Mas, afinal, o que é cuidar? Cuidar pode ser definido como: “Tratar de”, “Tomar conta de”, “responsabilizar-se por”, “prestar atenção a”, “interessar-se por”.
    Tudo o que façamos com uma criança em contexto educativo deverá ter sempre por base o cuidar. Se soubermos cuidar das crianças, rapidamente a nossa relação se fortifica e alcança patamares de interação superiores. Cuidar é também saber ouvir. Cuidar é fugir dos diálogos motivacionais estereotipados “Pergunta da criança: Gostas do meu desenho? Resposta do Educador: Quer giro!”, que só criam diálogos ocos e vazios. Cuidar é ter paciência para ouvir a história das batatas que dormiam no telhado e, no final, ainda perguntar se as batatas não tiveram frio.

 

    As crianças gostam de se sentir cuidadas, seguras. E se soubermos cuidar, as crianças gostarão de nós. E não há relação alguma sem que haja cuidado.  E haverá melhor sensação para uma criança quando sente que tem ali alguém que cuide dela? Acredito que não.


    Ser Educador é ser Cuidador. 



Um Educador de Infância!

Fábio Gonçalves

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